10 de agosto de 2018

Estudo da USP pode ajudar no controle e prevenção da ferrugem do cafeeiro

Em 1970 o fungo da ferrugem – denominado Hemileia vastatrix – foi reportado em cafezais na Bahia, rapidamente se expandindo para todas as regiões produtoras do Brasil. Desde então, tornou-se necessária a utilização de defensivos agrícolas para manter as epidemias sob controle,modificando os cuidados necessários na lavoura cafeeira, e elevando custos. A doença ocasiona danos todos os anos na maior parte dos 1,5 milhão de hectares cultivados com cafezais da espécie arábica. As plantas da espécie arábica geralmente apresentam maior sensibilidade à doença, sendo os mais afetados.

Controle

Atualmente o controle da ferrugem do cafeeiro é realizado com aplicação de fungicidas, sendo o método mais eficiente no combate a doença em cultivares suscetíveis.

Os fungicidas sistêmicos, que se movem na planta ou nas folhas, aplicados para a ferrugem possuem três princípios ativos distintos: triazóis, estrobilurinas e carboxamidas. Os triazóis são a base do controle, utilizados na aplicação realizada no solo, geralmente no início das chuvas, que ocorre de outubro a novembro. Os fungicidas deste princípio ativo são absorvidos pelas raízes, e se movem em direção a parte áerea, protegendo a área foliar. As estrobilurinas se movem apenas nas folhas, então são sempre pulverizadas pela parte aérea, tendo sido o segundo princípio ativo a ser utilizado no combate a doença. As carboxamidas são o princípio ativo mais recente, com comportamento na planta semelhante as estrobilurinas, e usada nos fungicidas mais modernos para o combate a ferrugem.

O número de aplicações de fungicidas sistêmicos é variável por cada região de cultivo do cafeeiro. No geral, de duas a três aplicações são realizadas, com período residual de 60 dias. Fungicidas a base de cobre também são utilizados no controle, porém possuem um período residual menor, por vezes sendo aplicado intercaladamente com os sistêmicos.

À esquerda, Fernando Dill Hinnah, doutorando em Engenharia de Sistemas Agrícolas, e Paulo Cesar Sentelhas , professor da ESALQ – USP - Fotos:Fernando Dill Hinnah

À esquerda, Fernando Dill Hinnah, doutorando em Engenharia de Sistemas Agrícolas, e Paulo Cesar Sentelhas , professor da ESALQ – USP – Fotos:Fernando Dill Hinnah

Estudos

As doenças de plantas ocorrem quando três condições do triângulo epidemiológico são satisfeitas: hospedeiro suscetível, patógeno presente na área e ambiente favorável. Pensando no terceiro item deste triângulo epidemiológico, pesquisadores desenvolveram um modelo de previsão da ferrugem do cafeeiro que, baseado em muitos anos de ocorrência da doença e a dados meteorológicos, consegue antecipar a ocorrência da doença, possibilitando indicar aos produtores a necessidade do controle químico para combater o fungo.

Após o desenvolvimento do modelo, o mesmo foi testado em condições de campo, próximasdo que o produtor encontra no dia a dia. Dessa forma, foi possível analisar a eficiência do modelopara o manejo da doença, avaliando-se sua praticidade e eficiência.

Para isso, sete experimentos foram realizados em lavouras comerciais de Varginha, Boa Esperança, Buritizal, Uberlândia, todas no interior de Minas Gerais, e em uma área em Campinas (SP). Os experimentos em Varginha e Boa Esperança foram conduzidos nas safras 2015-16 e 2016-17. Desta forma, além da boa diversidade de ambientes, obteve-se uma representatividade de mais de uma safra. Assim, os objetivos destes experimentos foram conhecer como o controle da doença com este modelo se dá nos diferentes locais em que o cafeeiro é cultivado em larga escala.

Com a compreensão de como a doença se desenvolve, o modelo para o manejo da doença pode prever com 30 dias de antecedência se a ferrugem irá evoluir ou não. Desta forma, os avisos relacionados a evolução prevista da doença são dados com uma boa antecedência, o que permite aos produtores o planejamento da aplicação dos fungicidas. Além disso, o modelo não requerobservações da doença realizadas no campo pelos produtores, nem que eles possuam estações meteorológicas instaladas em suas propriedades. Os dados meteorológicos usados no modelo são apenas a umidade relativa do ar e a temperatura mínima, duas variáveisobtidas na maioria das estações meteorológicas.

Sintomas da ferrugem na lavoura cafeeira - FotosFernando Dill Hinnah

Sintomas da ferrugem na lavoura cafeeira – FotosFernando Dill Hinnah

Detalhes

No estudo também foi verificado que a temperatura mínima diária é altamente relacionada com a temperatura durante o período de molhamento foliar. E a umidade relativa diária é altamente relacionada a duração do período de molhamento foliar, ou seja, quantas horas por dia a folha ficou molhada. Estes dois fatores são essenciais para a infecção de Hemileia vastatrix, pois os esporos do fungo têm um funcionamento semelhante ao de uma semente -precisam de água e temperatura para germinar. Após a germinação, se o patógeno obter êxito em penetrar a folha, irá ocorrer a infecção, e a posterior colonização pelo fungo dentro do tecido hospedeiro. Todos estes processos irão culminar nas lesões alaranjadas da ferrugem que acabam reduzindo a produtividade das lavouras.

E quando os experimentos foram realizados, o resultado foi promissor. Em todos eles, com exceção da área em Campinas, as parcelas pulverizadas de acordo com a favorabilidade ambiental tiveram o melhor controle da ferrugem. Na área de Campinas, devido às altas quantidades de esporos no ambiente de lavouras ao redor sem o devido controle da doença, houve maior incidência da ferrugem, ou seja, um fator externo e fora de controle. Este local foi, inclusive, um dos que apresentou maiores quantidade de ferrugem durante a safra, demonstrando que os esporos do fungo vindos de talhões muito próximos resulta em alto impacto nas lavoura vizinhas.

Já em Uberlândia e Buritizal a ferrugem foi muito bem controlada, mesmo o  modelo tendo sido desenvolvido na área do Sul de Minas. E para Varginha e Boa Esperança, o modelo também resultou no melhor controle da doença, sempre com menores valores de incidência do que com os métodos tradicionais, que não levam à favorabilidade do ambiente em consideração.

 

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